Orgulho e preconceito

Muitas pessoas se orgulham do preconceito que carregam

A sociedade brasileira, não como um todo, frise-se, é preconceituosa em sua essência. Muitas pessoas tentaram (e muitas estão conseguindo até hoje) diminuir o preconceito em alguns setores descontando-o em outros, aos quais odeiam. Penso eu que muitas destas mentes, oficinas do diabo, que acham-se superiores ao povo, estão conseguindo aplicar em tudo o que nos rege o sistema indiano de castas.

Tomemos como exemplo primeiro a sociedade pós-eleições. Esta divisão que fora já aplicada nos 13 longos anos de martírio petista (e 13 é um número de azar até pra mim), e que, passada a campanha e conhecido o resultado das urnas, ratificado pelas autarquias federais e reclamado principalmente pelos extremistas apoiantes do derrotado Jair Bolsonaro, volta a se consolidar.

Para quem não sabe, segundo a Wikipedia, as castas indianas são o resultado da divisão em 4 partes do deus Brama (que nada tem a ver com a cervejaria hoje propriedade da AMBEV):
  • os brâmanes, que representam a elite intelectual, de posição social privilegiada — independente de sua riqueza;
  • os xátrias, ou seja, os representantes dos altos postos militares e, na sua maioria, governantes do sistema;
  • os vaixás, a saber, os médios e pequenos empresários, que pagam 40% de juros nos empréstimos;
  • os sudras, em sua maioria camponeses, artesãos e operários, que são resistentes, fortes, não gostam muito dos estudos e não têm vocação para o comércio, não gostam de fazer contas ou de investir para obter lucros, preferindo as atividades em que possam demonstrar sua força física, como os esportes.
Há também os dahlits (párias ou intocáveis), que trabalham com trabalhos considerados indignos, sujos, lidando com os mortos (animais ou pessoas), com o lixo, ou outros empregos que requerem constante contato com aquilo que o resto da sociedade, ou melhor, que as castas acima consideram abjeto e desagradável. São considerados individualmente imundos, impuros, e portanto não podem ter contato físico com os 'puros', vivendo separados do resto das pessoas. Ninguém pode interferir na sua vida social, pois os intocáveis são considerados menos que humanos e não são considerados parte do sistema de castas.

Aplicando-se o sistema acima na sociedade brasileira pós-eleições como um todo:
  • os brâmanes representam os artistas que lutaram com unhas e dentes para que Luiz Inácio Lula da Silva voltasse à cena do crime;
  • os xátrias representam as Forças Armadas, que ignoraram os apelos dos extremistas magoados com a derrota de Bolsonaro e ratificaram o resultado das urnas;
  • os vaixás são os MEI, autônomos, pequenos e médios empresários, dos quais muitos fecharam seus comércios por algum tempo após as eleições;
  • os sudras são o povo que tem algum dinheiro (e os esportistas do país), que ficaram divididos entre um e outro e, de alguma forma, financiaram a campanha de ambos.
os dahlits são o restante do povo, que votou em ambos, senão por ingenuidade, por burrice mesmo, ou não quis sujar suas mãos de sangue elegendo ou o 13 ou o 22.

Já em relação à música, a divisão fica ainda mais crítica:
  • os brâmanes são os artistas da MPB, do funk, do samba, do pop e do rap, que representam a elite intelectual do país (infelizmente);
  • os xátrias são os artistas dos ritmos nordestinos, tais como axé, brega e forró, que são considerados guerreiros;
  • os vaixás são os artistas menores ou de mediana expressão midiática, representantes dos mesmos ritmos das duas castas anteriores, bem como do rock, da música eletrônica ou da chamada música alternativa;
  • os sudras são os artistas mais tradicionais, de ritmos que não estão no mainstream.
E para estes quatro, quais são os dahlits? Ora, os sertanejos, os tradicionalistas gaúchos e as bandas de baile do Sul, que são os que mais vendem discos (digital ou fisicamente), que mais atraem público e que mais sofreram perseguição política da "beautiful people" por terem apoiado o genocida no 2º turno. (Pretendo abordar a temática do preconceito com os sertanejos em outro artigo.)

No que se refere à divisão entre castas por estados ou regiões:
  • os brâmanes vivem em São Paulo ou Rio de Janeiro;
  • os xátrias vivem no Norte e em partes do Nordeste do país;
  • os vaixás vivem por sua vez em outras partes do Nordeste;
  • os sudras vivem em alguns lugares do Centro-Oeste.
E é aí que o preconceito se aflora ainda mais. Do Rio Paranapanema pra cima, não se pode rotular ou brincar com o estereótipo das quatro castas acima, porque isso é considerado xenofobia. Porém, quem mora do Rio Paranapanema pra baixo, ou seja, na Região Sul, deve sim ser alvo de xenofobia pelas demais castas. Ou seja, nós, sulistas, somos os dahlits.

Um exemplo mais claro disso foi o da Oktoberfest, que aconteceu em plena época de eleição esse ano. Após o resultado do 1º turno, começaram o preconceito absurdo de que "ain, o Nordeste não sabe votar e blá-blá-blá...". Quem praticou a todo gás essa xenofobia foram os bolsonaristas, maiormente do Sul do Brasil (nem todo sulista é gado, hein!), que culpou o Nordeste por ter colocado Lula no 2º turno mas, a título de exemplo, elegeu para a Câmara nomes como Marcel Van Hattem (RS), Zé Trovão (SC) e Gleisi Hoffmann (PR), ambos totalmente tóxicos no âmbito político.

E quando a trend das meninas vestidas de Frida, a maioria de Santa Catarina, estado com fortíssima colônia alemã, começou a rolar, mais especificamente no TikTok, a xenofobia comeu solta (e o racismo também). O preconceito com as meninas do Sul se baseou num argumento estúpido do tipo "ain, porque elas são todas brancas e que não-sei-o-quê...". Mas claro que os grandes grupos midiáticos, diferente do tratamento que deram à xenofobia com o povo sofrido e guerreiro do Nordeste, simplesmente ignoraram esta cruel perseguição publicando apenas notícias sobre a festa em si, e não sobre o preconceito escancarado com o Sul do país.

Quer dizer que a xenofobia com o Sul é permitida? Bom, talvez seja por isso que a "beautiful people" não cancelou o nosso futuro presidente quando ressurgiu das cinzas o vídeo onde ele, se preparando para gravar uma propaganda do PT, soltou que "Pelotas é cidade-pólo: exportadora de viado", mas passou a cancelar os dubladores que defenderam que, muitas vezes, os personagens que eles dublam tem que ter sotaque neutro, medida padrão de dublagem da qual Juliette se recusou a participar e acusou, porcamente, os mesmos de "xenofobia", visto que, "repetindo de novo", os conglomerados de mídia se preocuparam mais em defender esta senhora do que criticar o presidente eleito para seu 3º mandato.

A sociedade brasileira, não como um todo, frise-se, é preconceituosa em sua essência. E isso só vai mudar pra valer quando o Senhor Jesus Cristo voltar à Terra como o Rei poderoso que é.