Este artigo vai ajudar autistas e "pessoas normais" a se entenderem em certas situações
Na condição de autista nível 1 de suporte (a saber, com Síndrome de Asperger), sinto que tenho o dever de informar aos que me acompanham o que a cabeça de um autista passa. E hoje, na estreia do quadro O Que é Autismo?, vamos falar sobre as crises explosivas (ou não) que um autista passa quase que constantemente (e digo por experiência própria, afinal, minha saúde mental não tem andado nada bem).
Vamos à primeira: meltdown. Ou colapso nervoso, num português mais claro. O autista sente como se seu cérebro derretesse (melt significa "derreter"). Este tipo de colapso causa uma perda de controle das emoções, e é muito comum que o(a) autista passe a se comportar de forma repetitiva e agressiva, por exemplo: pode chorar descontroladamente, se jogar no chão, gritar ou falar de modo grosseiro, etc. O meltdown ocorre em situações de muita pressão, vide que o(a) autista muitas vezes se sente pressionado a fazer coisas que não quer e/ou que não são de sua completa responsabilidade. E quando isso acontece, o que fazer nesses casos?
- primeiro: mantenha a calma, pois o autista não precisa de gente mais nervosa que ele nesse momento;
- tire qualquer objeto perigoso de perto, pois a tragédia pode acontecer se não o fizer;
- leve o(a) autista para um ambiente mais calmo, onde a pessoa possa se sentir mais tranquila;
- se possível, providencie objetos sensoriais pra aliviar o estresse (no meu caso, fone de ouvido e música quase sempre funciona);
Quando acontece um meltdown, você não deve ficar nervoso (vide que o(a) autista já está); não tente discipliná-lo nem dê qualquer tipo de bronca nele, pois a resposta não lhe será nada agradável; não julgue, pois você mesmo pode ter este tipo de comportamento sem saber que tem; não tente sobrecarregar o (a) autista, pois em muitos casos a pessoa estará mentalmente cansada; e não filme, para não expor o(a) autista ao ridículo.
Há também o shutdown, que é quando a pessoa autista está sobrecarregada, ou passa por situações que envolvem vários estímulos ao mesmo tempo. Shut em português significa "desligamento", e por isso, o shutdown é mais difícil de se perceber que um meltdown, por exemplo. No "desligamento", pode acontecer a perda temporária da habilidade de fala, de movimentos ou de resposta ao redor. O (a) autista pode chorar, olhar ao relento (olhar fixo em algum ponto), pode ter pouca comunicação (ou evitá-la) e, em casos raros, estar sonolento em excesso.
Nesse caso, se precisar perguntar alguma coisa, faça perguntas cujas respostas sejam apenas "sim" ou "não"; não toque na pessoa e tente ao máximo não falar com ela; e, assim como no meltdown, leve o(a) autista para um ambiente mais calmo e, se possível, providencie objetos sensoriais pra aliviar o estresse.
Para evitar se sobrecarregar, o(a) autista também entra em burnout. Esta síndrome tão falada nos últimos tempos, principalmente em razão do trabalho, já que muitas pessoas consideradas normais a adquiriram nestes anos, também acontece com a pessoa autista, só que de uma maneira diferente dos normais. O burnout autista acontece quando, depois de muito tempo, a nossa energia é gasta mais rapidamente do que podemos repor.
Quando o(a) autista está em burnout, os sinais que está acontecendo o burnout são:
- Irritabilidade aumentada (quase aflorada);
- Dificuldade de falar ou se comunicar;
- Falta de motivação para fazer tarefas;
- Aumento das dores sensoriais;
- Problemas digestivos;
- Perda de memória (muitas vezes recente);
- Sentimento de exaustão;
- Ansiedade exagerada.
Nesse caso, para evitar o burnout, o(a) autista deve criar uma rotina, planejar momentos de descanso, fazer alguma acomodação em seu ambiente, dormir tempo suficiente e descobrir maneiras de se regular. Mas como lidar com o burnout?
- Identifique o mais rápido possível os sinais, o que vai ajudá-lo a lidar com o burnout;
- Avise as pessoas ao seu redor sobre o seu burnout, e quem sabe alguém pode te ajudar;
- Cumpra suas necessidades sensoriais, o que pode te acalmar;
- Por último, mas não menos importante: descanse, porque uma mente descansada é uma mente saudável.
Em outra ocasião, voltarei a falar sobre as características do autismo em seus mais variados aspectos. Obrigado pela sua atenção e até breve!
Parabéns, Gian! Muito que está aí escrito neste post reflete um pouco a minha personalidade. Resumindo, o meltdown é quando você percebe que sua autoconfiança está sendo roubada. O shutdown é quando você sente um "cansaço mental" bastante imprevisto. E o burnout é quando você descarrega suas energias nos momentos de surto, muito mais do que se pode repor normalmente após um exercício físico. Pena que gente, inclusive dentro das nossas famílias, ainda são (escrevendo em bom português) "ignorantes" em matéria de poder identificar os sinais que revelam o espectro autista em seus filhos, sobrinhos, netos, afilhados...
ResponderExcluirExatamente isso, meu grande amigo Êgon!
ExcluirParabéns pelo texto Gian, eu já vi duas pessoas na internet, uma no Youtube que eu seguia o canal de julho de 2019 à maio de 2020 (parei de seguir o canal dessa pessoa por falar em um vídeo uma coisa que achei absurda) e outra no Instagram usarem essas expressões que até pouco tempo eu desconhecia como "Meltdown" e "Shutdown", já que só em setembro de 2017 eu descobri na internet (e numa live do YouTube) existência da Síndrome de Asperger (Autismo nível 1) em setembro de 2017 e só em abril de 2022 que descobri que tenho o Autismo nível 1 (antiga Síndrome de Asperger).
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