Que peso tem a falta de escrúpulos?

O Brasil tá lascado, não só politicamente

Se alguém me perguntasse se era possível um grupo de pessoas de um mesmo país apoiar um serial killer (já falecido), um agressor físico de mulheres (com provas rolando a torto e a direito nas redes sociais) e um agressor verbal contra os LGBTQIA+, eu teria a resposta na ponta da língua: sim, é possível.

O Brasil é conhecido mundialmente por ser o país do carnaval, o país do futebol, onde existem apenas Salvador e Rio de Janeiro como palco para clipes de artistas estrangeiros... Aliás, essa é a imagem que 90% dos cantores daqui que almejam uma carreira internacional continuam construindo (né, não, Anta?). Mas quem aqui vive sabe perfeitamente que nunca foi assim. Aliás, nem assim foi (obrigado Carlos Bindé).

Todos nós sabemos que peso tinha o defunto Lázaro Barbosa nos noticiários policiais sensacionalistas da RecordTV. Tamanho o culto ao serial killer que, sentindo-se órfãos da pauta, a requentam em documentários e séries especiais de vez em quando. Ora, a RecordTV tendo como donos pessoas que se dizem servos do Senhor Jesus mas o escarnecem com um puxa-saquismo exagerado ao Excelentíssimo Genocida da República Federativa do Brasil fazendo um jogo maldito desses não me surpreende mais.

Todos nós sabemos que peso tem os vídeos que mostram claramente as agressões do DJ Ivis sobre Pamella Holanda. A cara-de-pau num vídeo de desculpas convenceu os trogloditas-alfa que acham que podem fazer o que quiserem com as mulheres, mas não convenceu a Polícia Civil cearense, que fez um brilhante trabalho ao trancafiá-lo atrás das grades. Tomara que joguem a chave fora, mesmo que um possível habeas corpus o libere da prisão.

Todos nós sabemos que peso tem a misoginia e a LGBTfobia partidas da boca de José Siqueira Barros Júnior, o boquirroto puxa-saco do Jair. A TV A Crítica e a RedeTV mantém um certo desserviço mantendo o dito cujo no ar. O YouTube Brasil também, visto que o canal pessoal do mesmo já conta com quase 5 milhões de inscritos.

Mas a falta de empatia, de amor e de compreensão de todos os lados só faz aumentar o peso e a popularidade desnecessária dos três elementos acima sublinhados, dois deles vivos ainda. E o pior: a cúpula do YouTube no Brasil, que conseguiu o direito de excluir o canal do perigoso Allan dos Santos na Justiça, não move uma palha pra remover (ou considerar uma ameaça) a pesquisa em torno de Ivis ou pra excluir o canal de Sikêra Jr.

Ou seja, o YouTube brasileiro, que deveria seguir as leis do nosso país ao invés de seguir as leis dos Estados Unidos (tal e como a cúpula americana faz e só ela deveria fazer), só faz alguma coisa quando dói no bolso deles. Ou quando as grandes corporações querem acabar com os canais errados.

A título de exemplo: muitas vezes nós vimos casos de canais derrubados pela Globo por suposta violação dos direitos autorais, certo? Pois bem, quando vamos ao Globoplay ver algum arquivo antigo (ou simplesmente ligamos a TV na Globo), a qualidade da imagem parece muito com a dos vídeos do YouTube, certo? Então, se você não sabia, vai saber agora: por preguiça, o robozinho do Globoplay derruba os canais do YouTube que preservam a memória da TV brasileira pra não ter que recorrer ao próprio acervo pra restaurar as imagens que tem.

E não é só a Globo, hein! Todos os grandes canais de TV aberta, por mais que você recorra ao método de creditá-los na descrição do vídeo, fazem o mesmo. E ainda reclamam da Globo por ela fazer isso! Enfim, a hipocrisia que nunca acaba.

O cancelamento de pessoas que agridem à nossa inteligência é válido, desde que usado de maneira correta e com as pessoas que merecem de fato. Em certos casos, o cancelamento não passa de lacração. Mas em outros, basta cumprir os seguintes passos: desmonetização da pessoa e de seus atos; exclusão do canal e de seus perfis nas redes sociais; ignorância da tentativa da pessoa de voltar à mídia a qualquer custo. É assim que se faz um cancelamento de verdade, sem lacrar em cima de ninguém.

Afinal, se o YouTube Brasil (ou até a cúpula do Google no Brasil, a qual pertence o Blogger) ajudasse a fazer com que esses passos fossem cumpridos, poderíamos acabar com a falta de escrúpulos, sem sombra de dúvidas.