A difícil tarefa de se provar que se é um Asperger

Sou autista e tenho síndrome de Asperger. Já falei sobre isso diversas vezes. Mas antes que me perguntem se tenho laudos comprobatórios, respondo: não, não tenho laudo. Tenho, sim, documentos que serviram de laudo durante 20 dos 25 anos de minha vida.

Um deles, datado de 15 de outubro de 2004, que foi o que eu mais usei, é uma solicitação feita pela reconhecida neurologista Marta Regina Clivati junto à Secretaria de Saúde de Cascavel para que eu pudesse pegar remédios controlados para meu tratamento, remédios esses que parei de tomar há cinco anos, por decisão de outro neurologista.

Mas sempre que precisei provar que sou autista, mostrei este documento, no qual a neurologista marcou o CID F84.5, que é o código que identifica um portador da Síndrome de AspergerFui diagnosticado com Asperger no berço, embora o doutor à época não repassasse nenhum documento que comprovasse que, sim, tenho Asperger, o que só foi feito, como eu disse, em outubro de 2004.

Outro documento, mais recente, é na verdade um receituário médico, que um doutor de uma clínica particular da cidade usou como relatório para que minha mãe e eu pudéssemos usá-lo como laudo. Porém, este não foi aceito por muitos lugares. E há um tempo, o outro documento que uso não foi aceito como laudo para provar que tenho Asperger.

Em todos os médicos que fui, 90% com minha mãe ao lado, pedi para que se fizesse um laudo de verdade, para que eu pudesse levá-lo às empresas como forma de provar que sou autista. Entretanto, inúmeras vezes, este pedido foi negado. Portanto, sou autista, tenho como provar, mas não tenho laudo.

E o pior: isso já me dificultou o acesso a documentos para PcD's, como o passe livre interestadual, que jamais cheguei a ter. Aliás, recentemente meu antigo passe livre intermunicipal perdeu o prazo e, como se isso não bastasse, não juntei documentos para fazer outro.

E sabem o que é pior que isso? Descobri que, mesmo usando passe livre, seja ele de que grau for, muitas empresas cobram o valor integral da passagem de ônibus ou até dão um desconto, como se aquele passe livre não servisse pra nada. Como descobri isso? Viajando com meu pai para Curitiba. Mesmo ele apresentando o passe livre que tem (ele é deficiente físico), a empresa cobrou um valor para o pagamento da passagem. Oras, se é passe livre, por que cobrar a passagem? Falta dinheiro em caixa por acaso?

Bem, é por isso que eu parabenizo todos os que saem em defesa de nós, autistas. Sem mais.

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