Eis aqui mais um texto cirúrgico do meu grande amigo Êgon Bonfim, mostrando que o futebol nem sempre é uma caixinha de surpresas. Às vezes, pode até ser um contêiner de mamata.
Sabe quando você gosta de uma coisa e você aguarda ansiosamente por aquilo que pode te animar por um momento, mas de repente um grupete do "Country Club de Paris" entra no meio e estraga tudo, nem se importando com a reação de seu próximo e tem simplesmente a intensão de agradar apenas aqueles que gostam das mesmíssimas coisas por causa de um detalhezinho insignificante em troca de muito dinheiro e ao mesmo tempo discriminam os que não pensam exatamente igual a eles, sem um pingo de respeito? Pois é exatamente assim que me sinto há pelo menos duas décadas.
Tanto gostava de televisão que, quando tudo parecia ficar bom e interessante, estragavam o conteúdo para moldá-lo de acordo com a "audiência que subia". Mas gostaria de abordar com vocês, pedindo licença ao nosso distinto editor-chefe Gian Carlos, outra coisa. Aquilo que a gente espera de 4 em 4 anos e, para quem mora num país como o nosso, é tratado como o "maior evento do mundo".
Pois bem, esta semana foi confirmada que a Copa do Mundo FIFA de 2026 terá o absurdo número de 48 participantes e ainda mais disputada em 3 países, sendo um deles sem a mínima tradição em futebol. Quando o dinheiro entra, tudo tende a estragar. Isso me lembra um documentário que assisti diversas vezes e que eu gostei muito chamado "Planeta FIFA" (recomendo) e tudo que é lá mostrado, se encaixa perfeitamente nessa rede de corrupção pesada numa entidade que, inicialmente, era sem fins lucrativos e tinha como objetivo expandir o futebol por todo o mundo.
E o que se vê hoje? Dinheiro a rodo pago por fora para atender interesses exclusivamente contrários aos puristas da bola, apenas para fins de barganha com europeus, e eventualmente asiáticos, arrastando demais continentes (por puro preconceito, incluindo a nossa América do Sul) pra debaixo do chinelo. Vivemos um período de pandemia causada pela expansão da Covid-19. O vírus ainda não foi vencido 100% por causa de um monte de vacinas que não foram eficazes o suficiente para erradicá-la de vez, ela ainda assusta pois países como o Brasil permanecem ainda, por puro orgulho e soberba, sob o status da negação.
Os mais de dois anos que convivemos com esse mal do Século XXI poderia ajudar certas pessoas a mudarem de vez seus modos, rever e corrigir o que está errado para fazer algo um pouco mais justo e correto visando o respeito ao próximo e o bem estar de nossa sociedade em áreas bem específicas, muito pelo contrário, essas pessoas ficaram ainda piores, cada vez mais gananciosas, mercenárias, invejosas, sociopáticas, odiosas, interesseiras, maquiavélicas, sanguessugas, presunçosas, empoderadas, paranoicas e negacionistas (esta é a palavra-chave do momento). O futebol é uma dessas áreas.
Porque 48 se 32 já tava de bom tamanho?! E mais, este ano de 2022 não é pra ter Copa do Mundo. E se uma cepa variante da Covid atingir o Catar no final do ano? E se um Neymar ou um Messi da vida chocarem o mundo da bola anunciando que pegaram tal doença e tão em estado crítico? Cientificamente, os casos de Covid se elevam mundo afora quando chegam as estações mais frias do ano, outono e inverno. Estas serão as estações do ano predominantes no Oriente Médio quando o evento chegar, isso se tiver Copa. Não é o momento e tampouco o clima ideal pra que todos se preparem para a "caminhada rumo ao hexa".
Se a FIFA fosse séria e pensasse no bem-estar dos jogadores, torcedores, profissionais da área, trabalhadores indiretos e imprensa, a Copa seria cancelada ou, no máximo, adiada, como o COI fez com as Olimpíadas de Tóquio, onde os atletas competiram sem o calor do público presente, diante de ginásios e estádios vazios e exclusivamente perante as câmeras de TV. Desde o início da pandemia comentei pra muita gente que "vacina não adianta", até porque tem variante sobre variante entrando em mutação a todo tempo e contaminando a população por mais que "pegue fraquinho", mas deixa sequelas pra toda vida. Isso é preocupante.
Agora, sobre 2026, absurdo mesmo é dividir 48 países em 16 grupos de 3. Vai ter muita combinação e "jogo de comadres" visando eliminar as "ameaças" das chaves, isto é, as seleções mais fortes. Lembrem-se de Alemanha Oriental x Alemanha Ocidental em 1974, Argentina x Peru em 1978 e de Alemanha x Áustria em 1982 (dever de casa pesquisarem sobre a história dessas partidas). A FIFA vai perceber a mancada que fez em tirar o básico desse evento que é a competição entre as equipes e não tenho dúvidas que voltará atrás para o evento de 2030, que festejará os 100 anos (e desde então apoio o Uruguai como país-sede de tal edição comemorativa).
Mas, pode ter uma fagulha de sentido se a Copa deste ano for cancelada em virtude da Covid. Vai saber se o Governo do Catar divulgar um número acentuado de casos às vésperas da abertura, capaz de assustar o comitê organizador do torneio. Para que os países que lutaram para conseguir uma vaga nas Eliminatórias não sofram crise de consciência em terem desperdiçado suas energias para tal, seria mais em conta manter esses países para a edição de 2026, dispensando as próximas Eliminatórias, e mais aqueles que foram eliminados
nas repescagens e que "bateram na trave" para se chegar aos 48 participantes. Assim, não se correrá o risco de Catar-2022 virar "torneio fantasma", como aconteceu com o Mundial de Clubes Espanha-2001 (que o Palmeiras disputaria) por causa da falência da ISL. Uma coisa pode compensar outra.
Se discute muito sobre a distribuição de vagas por continente quando se fala em Copa do Mundo. Mas aqui apresento uma sugestão, pois é muito fácil levar em conta esse equilíbrio de forças na distribuição de vagas para as próximas Copas, mantendo assim o número ideal de 32 países. Pois bem, antes de mais nada, eu acabaria com as repescagens intercontinentais e só teria repescagem apenas dentro dos próprios continentes. A Oceania ganharia uma vaga por direito, a Concacaf e a Conmebol ganhariam mais uma vaga cada uma e a UEFA teria "apenas" 12 vagas. Então, vamos somar: a Conmebol teria 5 vagas, a Concacaf com 4 vagas, a África com 5 vagas, a Ásia com 4 vagas, a Oceania com 1 vaga, a UEFA com 12 vagas e por último incluímos o país-sede, que é dispensado da briga nas Eliminatórias. Total: 32 vagas, o que já é suficiente. Em todas essas Eliminatórias, a disputa seria em grupos separados e não em sistema de pontos corridos como vem acontecendo na Conmebol desde a da Copa de 98.
E o sistema de disputa? Depois dos 8 grupos de 4, passam 16 para uma eliminatória simples. Muito time ruim vai longe demais e muito favorito cai prematuramente, lembram da Copa de 90? Seria conveniente uma espécie de "formato funil" para as próximas Copas, que consequentemente elevaria o número de jogos e necessitaria de mais espaço no calendário do futebol. Daqueles 16, poderiam ser reagrupados em 4 grupos de 4, passam 8 e são novamente reagrupados em 2 grupos de 4. Aí passam 4 para as semifinais, vem a decisão de 3o lugar e por último, a grande final. Seriam necessários onze jogos para uma seleção chegar ao título. Mas como seria definidos os novos grupos no "formato funil"? É fácil, através do índice técnico, como se fazem na Liga dos Campeões da Europa e na Copa Libertadores da América, ora pois.
O que a quarentena não fez para que pessoas isoladas bem intencionadas tenham suas mentes
iluminadas e elaborassem boas ideias entre quatro paredes para pelo menos certas coisas pudessem ser um pouquinho mais justas. Falei do Mundial de Clubes e outro absurdo vai acontecer: 16 times disputarão o torneio de 4 em 4 anos, um verdadeiro assassinato ao futebol. Por acaso os grandes times esperam de dois em dois anos disputarem uma competição continental dependendo do desempenho nas ligas nacionais? Claro que não. É outra burrada da FIFA entrar nessa barganha europeia (e asiática também, até porque essa Copa do Mundo Interclubes quase jamais arredou o pé da Ásia).
Para que seja mantida sua disputa anualmente (e um país-sede ter o direito de organização quadrienalmente), coloquem-na no mês de janeiro (lembrem da edição Brasil-2000). E se o problema é o número de participantes, 7 ao todo (campeões da Liga Asiática, Liga Africana, Liga da Oceania, Liga dos Campeões da Concacaf, Liga dos Campeões da Europa, Copa Libertadores e o "time anfitrião" representado pelo campeão da Supercopa Nacional, que eu acho mais justo, ou o campeão da Liga Nacional, que vem acontecendo muitas vezes), para acabar com esse mata-mata malfeito desde 2005, sugiro que a oitava vaga venha de um Pré-Mundial que daria lucros à beça pra FIFA.
Os campeões da Liga Europa, Copa Sul-Americana, Copa da África, Copa da Ásia, Copa da Concacaf e da Copa dos Presidentes da Oceania (mais o campeão da Copa da Liga do Japão, no papel de time-anfitrião - pra acabar de vez com aquela "ex-Suruga Cup" caça-níquel -, e da Copa da CONIFA, uma confederação desconhecida que abrange o norte da África, oeste da Ásia e partes dos demais continentes) têm o pleno direito de disputarem uma eliminatória simples, cujo campeão ganharia como prêmio a última vaga para o Mundial de Clubes. E com 8 clubes, daria perfeitamente pra montar um sistema de disputa igualzinho o da extinta Copa das Confederações.
Lógico que, com tantos gângsteres dominando as confederações nacionais, continentais e principalmente a FIFA, tais sugestões, por mais que sejam ótimas, vindas de puristas, amantes, fãs, torcedores e entendidos de futebol, jamais chegarão ao conhecimento dos "altos superiores", como também nunca serão colocadas em prática. Uma mala preta repleta de dólares seguida de intimidação a nossos entes se tornou a nova maneira deles dizerem "cala a boca" pra gente.
E pensar que o João Havelange começou essa história, abrindo as portas pra tudo isso que é de ruim entrar nesse mundo, o Joseph Blatter só manteve esse legado saindo pelas tangentes e agora o Sr. Gianni Infantino apenas piorou o que tava simplesmente... um lixo. É como se sentar na privada três vezes por dia, soltar aquele barro e dar uma tremenda descarga (pra não dizer outra coisa em respeito aos nossos distintos seguidores), evacuando aquilo que "não lhe interessa". Por essas e outras, sinto dizer: o Dinheiro Futebol Clube venceu mais uma.