A guerra contra Fernanda Torres

Tudo conspira contra Ainda Estou Aqui e Fernanda Torres


A nomeação para o Oscar 2025 de Ainda Estou Aqui a melhor filme internacional e melhor filme do ano e da brilhante atriz Fernanda Torres para melhor atriz do ano, após esta ganhar o Globo de Ouro pelo desempenho visceral na pele de Eunice Paiva, desencadeou uma guerra não tão velada assim contra o filme e contra Fernanda.

A começar que o filme mais agraciado pela crítica americana é uma verdadeira bosta chamada Emilia Pérez, cuja montagem, roteiro e direção, todos sem o mínimo de pesquisa anterior, pecam pelo excesso de estereotipias mexicanas (sendo que o filme foi rodado na França, por um francês, e os sotaques de praticamente todo o elenco parece ser forçado demais).

Não apenas o México em si, como também a América Latina inteira, que sabe praticamente todas as características do México (vide que as novelas da Televisa rodam até hoje pelo mundo), desceram o pau nessa merda. Tanto que até o próprio diretor do filmeJacques Audiard (que, para desgosto de todos nós, foi indicado a diretor do ano ao invés de Jon M. Chu, de Wicked), teve que pedir desculpas aos mexicanos, tamanha a falta de vergonha na cara.

Mas, para os críticos e os baba-ovo de artistas que, sim, são incríveis (tais como Selena Gómez e Zoe Saldaña, que, para desgosto total de muitos, estão nesta bosta), Emilia Pérez é uma maravilha. Ou seja, para esses críticos imbecis, Ainda Estou Aqui só está chegando agora, o que, torcemos, pode mudar a decisão do pessoal da Academia que vai votar entre 11 e 18 de fevereiro e entregar a premiação em 2 de março.

Só que duas pessoas estão fazendo de tudo para ridicularizar Fernanda Torres, Ainda Estou Aqui e, por tabela, a arte brasileira. Uma delas é a espanhola Karla Sofía Gascón, protagonista da bosta Emilia Pérez, que também foi indicada para melhor atriz (ô, praga!). Este ser humano, cuja interpretação só convenceu imbecis e ganhou a raiva da Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação dos Estados Unidos, que já chamou Emilia Pérez de "retrocesso para a representação trans", não apenas ignora solenemente que, sim, há outra latina disputando o mesmo galardão que ela como pediu para a própria Fernanda para que os brasileiros parassem de, em suas palavras, "atacá-la". E o pior: a Fernanda mordeu a isca. Gravou um vídeo onde o resumo é basicamente "sororidade, não há rivais aqui".

Há sim, Fernanda. E esta rival é pior do que o vagabundo do Donald Trump. Até mesmo porque, se Trump está expulsando imigrantes, legais ou ilegais, com pés e mãos algemados (como estão dizendo por aí), imagine o que a tal Karla não faria pra defender esta aberração que chamam de filme. Se há um "ataque", como esta espanhola diz, é porque o filme foi "baseado numa realidade mexicana", segundo o diretor quando, na verdade, o México não é assim por completo.

É público e notório que a Telemundo, o 2º maior canal latino dos Estados Unidos, se notabilizou pelas chamadas narconovelas, que basicamente exaltam as figuras mais execráveis do crime organizado. O maior exemplo disso é a supersérie (e põe super nisso) O Senhor dos Céus, que chegou a incríveis nove temporadas, das quais duas não contam com o protagonista, no caso, o ator mexicano Rafael Amaya (que, inclusive, meteu o pé na jaca e não filmou a 9ª temporada da série). Mas daí a dizer que o México é totalmente composto por narcotraficantes é estereotipar um país que entrega cultura, entretenimento e alimentação no mesmo nível que o Brasil entrega.

Só que, lá no Twitter (X é só pro neonazista do Elon Musk), tem gente comentando que "Ain, não pode atacar ela porque é a primeira trans indicada pro..." Ah, vai-te à puta que pariu. Glamour Garcia também é trans e nem por isso, quando atuou na novela A Dona do Pedaço, atuou mal. Orientação sexual não é desculpa pra passar pano pra interpretação de merda! Então, não me venham com essa historinha besta de que, só porque ela é trans, não pode ser criticada.

A segunda pessoa, porém, é a prova viva de que, nem sempre, o Oscar é dado por mérito. Gwyneth Paltrow, a mesma que teve o demérito de roubar de Fernanda Montenegro, a nossa Dama de Aço, o Oscar lá em 1999, foi a pessoa com quem Demi Moore, indicada pela interpretação em A Substância, que poderia ser a volta por cima em sua carreira, comemorou a indicação em questão.

E digamos que aliar-se com quem ganhou o ódio e o rancor pelo roubo descarado e por, anos depois, ter tirado uma foto com o Oscar que ganhou em 99 como peso pra porta (o que ela alega ser piada, mas eu duvido muito), foi a pior cagada que Demi Moore fez em sua notável carreira. Isso sem contar os filmes no qual era a protagonista "gostosa" que seduzia os caras, a depender da trama, levando vantagem ou desvantagem para si. Ou seja, a partir desse gesto, Demi se tornou nossa 2ª maior rival, atrás apenas da tal Karla.

Há ainda outras duas indicadas a melhor atriz nesse páreo: Mikey Madison, a quem desconheço, que interpretou a personagem-título de Anora, e a brilhante Cynthia Erivo, cuja interpretação da bruxa Elphaba em Wicked, o arrasa-quarteirão de 2024, encantou muitos que não a conheciam antes do filme (ou das ações para promovê-lo junto à sua "irmã de alma" Ariana Grande).

Aqui, cabe uma curiosidade sobre a atriz e cantora que é uma das mais notáveis estrelas da nova geração da Broadway: antes da indicação ao Oscar, ela faturou, entre 2016 e 2017, três dos quatro principais prêmios outorgados aos artistas que brilharam no ano anterior, a saber, o Tony [prêmio teatral dos EUA, equivalente ao Prêmio Shell daqui], o Emmy e o Grammy. Todos pela magistral e cativante interpretação na versão musical para o teatro do clássico A Cor Púrpura. Mas no Globo de Ouro desse ano, ao qual ela também fora indicada, perdeu na categoria de "Melhor atriz em filme de comédia ou musical" para... Demi Moore!

Ou seja, a Cynthia Erivo será a única pessoa de quem eu não demonstrarei qualquer tipo de ranço se derrotar Fernanda Torres no Oscar. Por duas razões: porque só falta o Oscar pra Cynthia zerar o Grand Slam das premiações e, principalmente, porque ela e a Mikey que, repito, desconheço, não fizeram, até aqui, nenhuma cagada que as desabonasse de disputar o prêmio contra a atual maior representante do nosso cinema lá fora (desculpa, Selton Mello, Rodrigo Santoro e outros, mas o título hoje é da Fernanda).

Em resumo: Karla Sofía Gascón e Demi Moore são as maiores inimigas de Fernanda Torres atualmente, querendo a Fernanda ou não. Enquanto 2 de março não chegar, a guerra pelo prêmio de melhor atriz no Oscar 2025 vai continuar.