Agora é tarde pra voltar atrás

A soltura de Sérgio Cabral mostra o quanto nossos três poderes são harmônicos entre si


Eu me arrependo de muitas coisas que já disse ou já publiquei, seja por vídeo ou por artigo (o que explica o fato de ter excluído muita coisa nos meus canais em diversas plataformas). Mas o STF não sabe o que é arrependimento.

Na nossa atropelada e demolida Constituição "Cidadã" de 1988, verifica-se que há, no Art. 2º, o seguinte texto: "São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário". Ora, se este texto fosse levado ao pé da letra, haveria independência real e incondicional entre os três poderes. A única realidade desta frase é que os três poderes são, de fato, harmônicos. Principalmente quando se trata de foder com o povo brasileiro, e mais ainda com quem tem dois ou mais neurônios e não é lambe-saco de político.

Quando se falava em corrupção no país, lembrávamos de absolutamente muitos vagabundos presos pela desmantelada Lava-Jato, tais como Eduardo Cunha, Lula e Sérgio Cabral. Pois estes três vagabundos, assim como muitos outros não-citados neste artigo, estão soltos, ativos e prontos pra descontar suas condenações em nós, isentos, sensatos, apartidários e que, diferentemente deles, não temos o rabo preso com ninguém.

Vocês viram alguém da esquerda se pronunciando a respeito da liberação de Cunha, Cabral e muitos outros arrombados presos pela Lava-Jato? Não. O que eu e vocês vimos foi a votação em conjunto, entre petistas e bolsonaristas, pela legalização do maldito Orçamento Secreto, chancelado pelo ainda presidente Jair Messias Bolsonaro e pelo futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E não venham com a falácia de que a esquerda é contra. Alguns nomes até bem conhecidos votaram a favor:


Curiosamente, pela Câmara, nomes da claque bolsonarista como Van Hattem, Bibo Nunes, Sargento Fahur e Carol de Toni votaram contra, bem como toda a bancada do PSOL, alguns do PSB e Maria do Rosário, aquela. Do lado dos senadores, Randolfe e Renan Calheiros, por exemplo, votaram contra e Humberto Costa se absteve.

Este foi o primeiro golpe do fim de semana. O segundo, mais doloroso ainda, foi-nos dado pelo sempre incompetente ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que endossou a maioria pela libertação de Cabral. André Mendonça, indicado pelo "mito", votou a favor. Mas, surpreendentemente, Fachin e Kássio Nunes Marques, que também não colaboram em nada para o progresso da justiça brasileira, foram contra a soltura de Cabral.

Há, sim, harmonia entre os três poderes. Mas só quando é pra foder o povo pobre e trabalhador. Quando há acusações entre si... shhh, fala baixo, senão o Bolsonaro volta (porque o PT voltou mesmo quando Moro aceitou ser ministro da Justiça do Jair e tomou bonito no orifício circular corrugado). E quem, no exercício do poder, foi contra esses abusos não é paladino da honestidade, muito pelo contrário, aliás. Estão com medo de serem os próximos, isso sim.

Bem, me arrependi de ter feito a vontade de minha mãe, que me pediu para votar em Lula no 1º turno, pois ela teve uma visão divina (e isso é totalmente verdade) de que Bolsonaro teria ganho e o país teria ficado muito triste. A visão, ao que tudo indica, está se cumprindo, mas com o outro vagabundo. Votei foi nulo no 2º, porque, repito, me arrependi de ter votado no molusco no 1º. Sujei minhas mãos de sangue por isso? Não, pois quem tem a mãe por perto deve sempre obedecê-la pra ter as bênçãos de Deus.

Também me arrependi de ter escrito o artigo de ontem me metendo onde eu não devia? Sim, tanto que o excluí. Mas não compactuo, em hipótese alguma, com os dois principais líderes do ódio, do rancor, da amargura, do desprezo e da corrupção legalizada deste país. Se eu pudesse, teria, no 1º turno, votado no Ciro ou na Soraya, que não se venderam pros dois antes, durante e após as eleições. Porém, agora é tarde pra voltar atrás.