O apito final no jogo da vida

Três grandes nomes do jornalismo esportivo deixam seu nome na história e lembranças na memória do torcedor brasileiro


Acho que a crônica esportiva encara a vida como se fosse um jogo de futebol. Cada ano de nossa vida equivaleria a um minuto a mais em campo. Pois, levando-se isto em consideração, os acréscimos não chegaram a três grandes figuras do jornalismo esportivo do nosso país, que entre ontem e hoje foram sacados do jogo da vida e partiram pro campo da eternidade.

O primeiro a partir foi o comentarista carioca Washington Rodrigues, o lendário Apolinho. Ele estava no ano 87 de sua vida, a saber, 42' do 2º tempo. Com 62 anos de carreira, muitos dos quais na Rádio Tupi, onde, há 25 anos, comandava o Show do Apolinho, passou a vida inteira a falar dos Geraldinos e Arquibaldos do nosso futebol. Quando falava no Flamengo, clube pelo qual torcia e que treinou em 1995, ano do centenário, se sentia mais feliz que pinto no lixo. Porém, um câncer no fígado foi detectado. Foi uma briga de cachorro grande pra sobreviver. E faleceu em 15 de maio, quarta-feira, justamente quando o Mengão vencia o Bolívar por 3x0 pela Libertadores. O Flamengo ainda fez mais um gol, mas este já não fora testemunhado por Apolinho. Pra ficar ainda mais triste a situação, um de seus melhores amigos no rádio, o também célebre Luiz Penido, que estava narrando Flamengo x Bolívar pela Tupi, perdeu completamente o controle e, não segurando a emoção, anunciou sua despedida do jogo da vida.

E na quinta, 16 de maio, dois baques quase que simultâneos. Lá pelas 9 da manhã, a família do apresentador Antero Greco, que estava com 69 anos (24' do 2º tempo), confirma sua partida que foi lenta, gradual e segura. Pelejando contra um tumor cerebral há dois anos, Antero entrou em coma profundo no último fim de semana, segundo o tristíssimo relato postado no UOL por Paulo Soares, o Amigão, que foi seu colega durante 22 anos no SportsCenter da ESPN Brasil. Os dois protagonizaram vários momentos de ataques de risos que passaram para a posteridade, alguns deles até 5ª série demais. E será esta a imagem que deixa o jornalista, representando seus 50 anos de carreira.

Mais de uma hora depois, o olho no lance se fechou. Aos 89 anos (44' do 2º tempo), Silvio Luiz nos deixou, levando consigo seus bordões inesquecíveis, muitos dos quais bem representados nos Pro Evolution Soccer da vida e suas cópias mundo afora. Em 72 anos de carreira, Silvio, além de narrador, repórter de campo e sócio-fundador do Clube dos Esportistas, cuja história foi bem narrada pelo meu grande amigo Êgon Bonfim lá no ÊHMB De Olho Na TV, foi também ator, pois participara da primeira versão para a TV de Éramos Seis, em 1958, e árbitro até os anos 70. Mais recentemente, ao lado dos humoristas Carioca e Bola, comandava as transmissões digitais do Paulistão pela Record e pelo R7. Foi no dia da grande final, entre Palmeiras x Santos, que ele passou mal. Até teve alta em 30 de abril, mas dia 8 voltou a ser internado, direto na UTI, e se foi oito dias depois para não mais retornar.

Um narrador, um comentarista e um apresentador. Vão se juntar à grande equipe esportiva do além, onde já estão nomes como Fiori Gigliotti e Luciano do Valle, por exemplo. Saíram da vida para entrar na história, como diria Getúlio Vargas.

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