O problema não é só a corrupção, é como ela foi feita
Era esperado de um vagabundo como Sóstenes Cavalcante, líder do PL, que se encontrassem mais de R$ 460 mil em grana viva em sua casa, afinal, parlamentar corrupto sempre existiu no Brasil (lembram do dinheiro no apê do Geddel?). Também era esperado que o mesmo vagabundo alegasse, vergonhosamente, que o dinheiro era “fruto da venda de um imóvel”, sendo que o imóvel foi vendido a R$ 500 mil (e os outros 70 mil?) e a casa havia sido anunciada por R$ 600 mil.
O que ninguém, nem a esquerda, esperavam era que se confirmassem as suspeitas de que tivéssemos no Supremo Tribunal Federal um magistrado encobrindo um caso de corrupção na própria família. Cabe ressaltar que o chefe de governo deste país é o Exc. Sr. Min. do STF Alexandre de Moraes, cujo mandato é marcado por solapar a Constituição, o Código Penal e tantos outros conjuntos de leis deste sofrido e ingênuo país chamado Brasil. Ora, eu sabia que ele tinha ares ditatoriais, mas ser cúmplice?
E tudo porque Daniel Vorcaro, do Banco Master, tem uma ligação com a esposa do magistrado. Uma ligação de mais ou menos R$ 130 milhões. Segundo a jornalista Malu Gaspar, de O Globo (portanto, um meio de comunicação nada confiável), a Sra. Viviane Barci, ou dona Vivi, como é conhecida a vetusta senhora, tinha contrato com o supracitado banco no valor de R$ 3,6 milhões mensais, sendo os impostos custeados pelo banco (não é demais lembrar que Vorcaro havia sido preso por esses dias).
Para além disso, a dona da vida do ministro teria procurado o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para interceder pelo banco. Galípolo não é Cristo e está demasiadamente longe de sê-Lo. Acham pouco? Pois “o amigo do amigo do meu pai”, o Exc. Sr. Ministro do STF Dias Tóffoli, havia determinado que o próprio STF conduzisse as investigações sobre o Banco Master. Não, não é coincidência, é blindagem inconstitucional que chama.
O magistrado tentou (e apenas tentou) se defender por meio de nota. Estranho por parte dele, porque pelo menos eu esperava que ele mandasse prender a Malu Gaspar por “atentado à democracia” ou “atentado à integridade jurídica”, algo assim. Na nota, escrevendo Magnitsky como “Magnitisky", o Exc. Sr. Ministro alegou que “recebeu para reuniões o presidente do BC, a presidente do Banco do Brasil, o presidente e o VP jurídico do Itaú”. Galípolo conversou com os banqueiros, de fato. Mas no dia 7, por videoconferência, e no dia 11, em audiência realizada em São Paulo. E, ao que consta na agenda de Galípolo, o magistrado não havia sido convidado.
Pra complicar ainda mais a mal-explicada nota, o Banco Central, a princípio, negou que houve assessoria sobre a Lei Magnitsky. Segundo apuração do jornalista Wilson Lima, de O Antagonista, as sanções ocorreram na tarde do dia 30 de agosto, e nesse dia Galípolo tinha duas reuniões do COPOM, enquanto no dia seguinte ele estava despachando pela manhã em seu escritório, recebendo no fim da tarde o presidente do COAF e o diretor-geral da Polícia Federal. O jornalista também encontrou respostas do mês de setembro, que apontam que “o Banco Central não atua como órgão de consulta” e “que não havia uma manifestação clara sobre a aplicação da Magnitsky”. E não foram quatro ligações efetuadas pelo ministro a Galípolo pra tratar do Banco Master, como foi divulgado por O Globo a princípio, e sim seis, como o Estadão divulgara mais tarde.
Em outra nota mal-explicada, a assessoria do magistrado disse que o mesmo realizara duas reuniões com Galípolo em seu gabinete, sendo uma em 14 de agosto e a segunda em 30 de setembro, oito dias depois da Magnitsky ser aplicada também à dona Vivi. E alega que nenhuma das reuniões era sobre o Banco Master. Só que nem na agenda do ministro nem na do Banco Central esses encontros existem. Pra piorar, em 14/08, Galípolo estava reunido com representantes do Governo Federal pela manhã e participou de duas audiências à tarde; em 30/09, Galípolo também tinha agenda à tarde (duas audiências aparentemente canceladas).
Na prática, o Exc. Sr. Ministro do STF Alexandre de Moraes é cúmplice da própria esposa. Se fosse um marido fiel, honesto e honrado, teria mandado investigar essa ligação entre Vorcaro e sua senhora. Todavia, se calou e agora está sendo devidamente execrado não só pelos bolsominions, como também por quem tem dois ou mais neurônios pra entender que lugar de corrupto (ou cúmplice de corrupto) é na cadeia. Não devia o magistrado ter medo de sua mulher ser mandada pra Tremembé, vide que a penitenciária em questão ganhou desnecessário status devido à série produzida para o Prime Vídeo. Devia, sim, não ser conivente com corrupção em casa. Mas, depois de tantas decisões monocráticas contrárias às leis pelas quais o ministro deveria apenas julgar, não duvido de mais nada.
