Repúdio pra você, falso jornalismo pra mim

A celeuma do último mês de 2025 tem nome, sobrenome, profissão e empresa na qual trabalha: Renata Mendonça, jornalista do Grupo Globo. Ela foi citada, de forma indireta e desagradável, por Luiz Eduardo Baptista, o BAP, presidente do Clube de Regatas do Flamengo, em uma coletiva que este deu para apresentar um balanço de seu primeiro ano de gestão.

Em relação ao futebol feminino, o clube investe R$ 22 milhões/ano e opera com déficit de aproximadamente R$ 11 milhões. A receita dos direitos de transmissão, repassada pelo Grupo Globo ao clube, não chegou sequer a R$ 1 milhão. Explica-se: somando os R$ 480 mil pelo Brasileirão Feminino adulto, os mais de R$ 110 mil pelo Sub-20 e os R$ 90 mil pela Copa do Brasil, o valor repassado pelo Grupo Globo ultrapassa os R$ 680 mil, fora os valores residuais de outros certames. Esse valor não cobre um mês de salário do futebol feminino. E sobre isso a Renata não fala.

O problema é que, pra endossar isso, BAP chamou a repórter, ainda que sem citar seu nome, de “nariguda”. O que, categoricamente, foi uma das piores coisas que ele poderia ter feito. Todo mundo do jornalismo do GE (e até quem não é do GE) resolveu defendê-la a unhas e dentes reprovando esta fala, só que generalizando, achando que tudo o que ele fala é mal. Não é bem assim. Ter chamado Renata de “nariguda” foi uma baixeza moral, é fato, mas está na cara que ela não faz jornalismo decente, tanto que, dias antes da coletiva, Renata chamara BAP de coisas piores que “nariguda”.

Como se isso não bastasse, Renata publicou, meses antes, uma reportagem sobre o fato do clube carioca encerrar o investimento no futebol feminino adulto e o redirecionamento às categorias de base e outras modalidades, readequando o orçamento. Pra descer a lenha no Flamengo, ela usou imagens que teriam chegado a ela. Só que essas imagens eram de um momento de manutenção de um dos gramados do CFZ, a saber, Clube de Futebol do Zico, que fica em um lugar específico do Rio onde os alagamentos são constantes e danificam estruturas abertas como a do CFZ, por exemplo. O CFZ não foi ouvido, tampouco Zico, que é o dono do empreendimento, e muito menos Thiago Coimbra, gestor administrativo do CFZ. É óbvio que o Flamengo deveria investir mais no futebol feminino, só que praticar um jornalismo indecente é diferente de cobrar o clube pra isso.

Zico se pronunciou sobre a falta de apuração e checagem da matéria em questão, inclusive citando que teria procurado Renata no mês da publicação da reportagem, fazendo inclusive contato direto pra explicar a ela a função principal do CFZ. Isto sem atacar Renata. Todavia, Milly Lacombe, que faz o mesmo trabalho de fake news que o Luiz Ernesto (só que guinada à esquerda), alegou que o ídolo máximo da Gávea teria “partido pra cima” de Renata e fez uma defesa do indefensável, sem ter citado que Renata, repito, não ouviu nem Zico nem ninguém do CFZ pra fazer a matéria. Não é demais lembrar que Milly, em 2007, trabalhando pelo SporTV, acusou o então goleiro do São Paulo Rogério Ceni de falsificar documentos e, quando fora questionada ao vivo pelo mesmo, negou na cara dura.

E como todo jornalista indecente ou, mais ainda, como qualquer torcedor vagabundo de outros clubes, Milly associou o uso de contêineres no CFZ… lógico, à tragédia que nos tirou os 10 do Ninho. O argumento do incêndio é usado maiormente por torcedores de clubes rivais do Flamengo pra tentar descredibilizar o avanço financeiro que o clube teve nas mãos de BAP. Comparar a estrutura de uma escola de futebol a uma tragédia que ficou impune, tendo inclusive cobranças da própria torcida rubro-negra para que se houvesse justiça, é de uma filhadaputagem sem tamanho. Esta senhora pratica um jornalismo canalha, calhorda, infeliz, pra dizer o mínimo. Ela não usa o Manual de Redação da Folha, como alega, e sim o Manual PVC de Jornalismo Arrombado.

Aliás, se Milly, Renata e outras profissionais cobram tantos investimentos no futebol feminino, por que é que eu não vi nenhuma comoção de igual categoria quando o Fortaleza anunciou que iria fechar o departamento da modalidade? Sim, Renata é do GE, mas por que quando o GE publicou que o Leão do Ceará iria encerrar o futebol feminino ela não falou nada? Por que não cobra da própria empresa, na qual está empregada, que repasse um investimento maior aos clubes para que estes invistam de fato no futebol feminino? É uma leoa pra criticar o clube que está no topo do país, mas abaixa a cabeça para seus próprios patrões que, não duvido, são homens.

Bem, é importante frisarmos algo em aspecto a isso: ter um time de futebol feminino é critério obrigatório para disputar competições nacionais ou continentais. Não deveria ser obrigatório, afinal, o futebol feminino deveria, pelos próprios méritos, ser auto-suficiente, sem estar “atrelado aos resultados esportivos do futebol masculino”, como diria a Revista Série Z no Twitter. Sobre o Fortaleza, a gestão tentou manter o futebol feminino ativo, mas a SAF (sempre a SAF) não deixou e mandou que acabassem. E sobre isso não vi ninguém do jornalismo do Grupo Globo ou do UOL falando algo.

Portanto, quando não é com o Flamengo, não interessa, não vira pauta, não resulta em milhões de acessos. Agora, quando envolve o maior clube do Brasil na atualidade, por mais que este não esteja no topo, vale tudo. Até inventar fake news e defender o jornalismo porco a unhas e dentes pra confirmar a velha máxima de que “uma mentira contada mil vezes se torna verdade”. Ninguém aplica apuração nos fatos que publica, mas todo mundo quer porque quer criticar o atual eneacampeão brasileiro e tetracampeão da Libertadores só por farmar likes. É evidente que o símbolo do Flamengo é o urubu-rei, mas os verdadeiros carniceiros (ou carniceiras, neste caso) se escondem atrás da alcunha de jornalistas.